Texto por Tiago Frúgoli
No dia 6 de abril, dois dias depois do 404 DAY, foi realizado na Intercommunal Music um workshop de criação de beats na SP-404MKII, em parceria com a Roland e a Roland Brasil. Falou-se das diversas formas possíveis de usar o sampler, incluindo as novas funcionalidades da atualização recém lançada. Mas, o foco principal foi a criação de loops a partir de samples de gravações já existentes.
O evento contou com a presença de Takeo Shirato que, além de ser DJ, é o engenheiro responsável pelo desenvolvimento do sampler no Japão. O workshop juntou ouvintes, interessados e profissionais da música. Além de Shirato, estavam presentes representantes de diferentes gerações do rap de São Paulo (Xis, Slim Rimografia, Janvi) e beatmakers como Abud e Adachi, entre outros músicos e produtores.
A SP-404 carrega uma tradição de mais de duas décadas de samplers, e de músicos que se apropriam criativamente de um equipamento, expandindo criativamente as possibilidades, para além da função original do equipamento (algo que já aconteceu com outros hardwares da Roland, como a renomada TR-808 e a TB-303). Apesar de não ser o primeiro sampler da série, a SP-303, lançada em 2001 com o selo da Boss (marca da Roland focada em pedias e efeitos), ganhou projeção após Madlib ter tornado pública sua preferência pela máquina, por ser barata, portátil e intuitiva. Álbuns como Madvillainy e Jaylib foram criados, em boa parte, na 303.
Já com o selo da Roland, a SP-404 (hoje chamada de 404 O.G., em referência ao termo “original gangster”, oriundo da cultura de gangues de Los Angeles), de 2005, aumentou extensivamente o tempo de sample e o número de bancos disponíveis. Com isso, passou a ser usada não só na criação, mas em apresentações, se tornando uma alternativa portátil na qual beatmakers podiam tocar suas produções ao vivo, improvisando com efeitos de áudio em tempo real.
Em São Paulo, já na decada de 2010, a 404 começou a aparecer em sets de DJ’s e produtores. Pessoalmente, fui inspirado por beatmakers do coletivo Beatwise, como SonoTWS e Abud, a enxergar a SP não só como uma ferramenta de criação, mas também de apresentação (um histórico mais aprofundado da cena de beatmakers de São Paulo pode ser acessado aqui).
O modelo mais recente da série, a SP-404MKII, de 2020, tem o diferencial de ter sido desenvolvido por DJ’s e produtores, dando ouvidos à comunidade de usuários dos modelos anteriores. Ainda um sampler leve e portátil, já não pode ser definido pelas suas limitações, como eram os modelos anteriores. Uma série de novas funções foram adicionadas, tanto no âmbito de criação quanto de apresentação, assim como na esfera de conexão com computadores e outros instrumentos. E novos recursos são disponibilizados a cada ano, com as atualizações de firmware.
Abaixo, alguns dos recursos da SP-404MKII:
- 16 pads multicoloridos sensíveis à velocidade
- 32 vozes de polifonia
- 16 GB de memória interna
- Nítido visor OLED com visualização gráfica do som
- Mais de 30 efeitos de áudio – ícones como o Vinyl Simulator e DJFX Looper dão as boas-vindas a incríveis novidades, como o Lo-fi, Cassette Simulator e Resonator.
E alguns dos recursos disponíveis na nova atualização (v4.04):
- Função Looper
- Sound Generator (sintetizador)
- Conectividade com o app Koala Sampler
- Multipad Export (exportar patterns com canais separados para cada sample usado)
- Microscope (editar parâmetros de cada nota programada em um pattern)
Foi um prazer grande, depois de quase duas décadas usando a SP, poder trabalhar no desenvolvimento da nova atualização, realizar esse evento na Intercommunal e tocar na after party, transmitida ao vivo pela Veneno, ao lado de Takeo Shirato, SonoTWS e Everton Santos – músicos que muito me inspiram.
Abaixo, links para: uma playlist de produções criadas em samplers da linha SP e outra de vídeos de beat sets.