Após mais de dois anos de trabalho do selo Lugar Alto, é lançada a coletânea de peças profundamente exploratórias do lendário percussionista e compositor Djalma Corrêa. O álbum apresenta gravações inéditas que abrangem uma ampla gama de experimentos sônicos, revelando um lado desconhecido do prolífico e inovador artista brasileiro. A maioria das faixas desse álbum foi digitalizada pela primeira vez – diretamente das fitas originais – e foi compilada em colaboração com Djalma pouco antes de seu falecimento.
O resultado é uma colagem selvagem e perturbadora que nos mostra o quanto Corrêa podia ser original e intenso: da peça eletroacústica pouco ortodoxa Evolução (Para Fita e Filme), que canaliza inspirações ancestrais africanas para criar uma narrativa sônica cosmogônica, até a proto-mixtape Exemplo de Sintetizadores, na qual ele transita de drones transcendentais para cha-cha-chas astrais.
Embora a compilação possa parecer desarticulada à primeira vista, ela é, na verdade, a tradução ou representação mais precisa de seu conceito central: música espontânea. A relação de Djalma com o som sempre foi guiada por sua abordagem destemida de ouvir e por sua interação audaciosa e dinâmica com músicos e equipamentos, o que lhe permitiu trabalhar em uma ampla gama de gêneros: do jazz à música completamente abstrata, sempre por meio de uma ética pessoal de “faça você mesmo”.
Djalma desenvolveu um forte vínculo com o experimentalista e inventor Walter Smetak, com quem dividiu um estúdio durante seus anos de formação na Universidade Federal da Bahia. Suite Contagotas, apresentada nesta coletânea, é nada menos que uma materialização sônica desse vínculo: um experimento que gira em torno do gotejamento de água e sua aleatoriedade – uma tentativa de explorar as ideias e possibilidades imaginadas por Smetak para seu audacioso, embora não realizado, Estúdio OVO.
Djalma, entretanto, é mais conhecido por seu trabalho de estúdio em álbuns históricos, incluindo muitos de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Jorge Ben, e por sua própria obra polirrítmica Baiafro. A última faixa é uma gravação inicial chamada Bossa 2000 dC, executada pela primeira vez por Djalma no show “Nós, Por Exemplo”, em 1964, um evento que é frequentemente citado como o marco do início do movimento Tropicália. Naquela época, ele era o único artista na formação que usava dispositivos eletrônicos para criar sons, por exemplo, osciladores médicos e microfones de contato para aumentar sua paleta percussiva.
O trabalho artístico é um amálgama de material encontrado no Arquivo Djalma Corrêa (atualmente administrado por seu filho Caetano Corrêa) e de outros materiais criados durante o período em que o disco estava sendo montado. A intenção é guiar o ouvinte por essa paisagem sonora possivelmente tempestuosa, fornecendo-lhe recursos adicionais para que ele possa extrair seus próprios significados e dar sentido a essa experiência extremamente imersiva e original, como nunca se ouviu antes.
Para comprar o vinil: Espontaneamente se Tenta: Aventuras Sonoras de Djalma Corrêa (2xLP)